Ação de ampliação da brinquedoteca no espaço lúdico do recreio do 1º segmento, em busca do protagonismo das crianças responsáveis pelo acervo da mala.
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Relato de Alexandre Bezerra:
monitor dessa ação em 2015
Desde
o segundo semestre de 2014, quando da minha participação no Curso de Extensão
em Brinquedoteca (CAP/ISERJ), observo as brincadeiras e os brinquedos
oferecidos nessa atividade no recreio. A proposta da MALA consiste em oferecer
um acervo de brinquedos variados que são levados ao recreio do Ensino
Fundamental, buscando eleger em cada turma um aluno que se responsabiliza por pegar
a mala na Brinquedoteca e devolvê-la ao término do recreio.
Enquanto não conseguimos realizar o
processo de eleição ou escolha deste aluno, a mala é levada para o recreio por
mim. Um dos aspectos que observo é a predileção por determinados brinquedos. As
crianças do 1º e 2º anos pedem chapéus e fantasias enquanto as demais pedem bolas,
além de jogos de tabuleiros. Pular corda atrai todas as turmas, do 1º ao 5º ano. Há quem pense que se trata
de uma brincadeira exclusiva de meninas, mas os meninos gostam muito e a
atividade provoca uma ótima integração das crianças. A bola inicialmente era
utilizada exclusivamente para o futebol até ofertarmos dois outros tipos de
bola, incluindo o vôlei e o basquete no recreio.
Uma dificuldade é a hora de arrumar tudo
de volta na mala, pois o sinal do fim do recreio provoca uma dispersão imediata
das crianças. Seria interessante observarmos os efeitos da mala no recreio,
seguindo os primeiros indicativos de seus benefícios, de acordo com o
depoimento das inspetoras cuja percepção é de que, com a oferta dos brinquedos,
espontaneamente formam-se grupos, o que diminui bastante as correrias e
acidentes.
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Oficina de criação de brinquedo
A formação oferecida pelo Laboratório
Brinquedoteca do CAP tem como objetivo o desenvolvimento de uma atitude lúdica.
Importa refletir acerca das possibilidades desse tipo de interação na educação
através da realização de projetos/ideias criativas baseadas nas interações
lúdicas dos sujeitos participantes, crianças e adultos e da articulação do
campo da práxis lúdica da brinquedoteca com a formação docente.
O que
faz de um objeto, um brinquedo?
Dentre as muitas
possibilidades de responder a esta questão, duas nos ajudam a mapear a reflexão
a que este texto se propõe. Uma primeira refere-se a tudo aquilo que as
crianças, na ação do brincar, transformam em objeto de sua brincadeira:
pedrinhas viram tesouros, pedacinhos de madeira viram avião, tampas de panela
viram direção de carro ou arcos que giram pelo chão. Mesmo os brinquedos já
convencionais experimentam uma nova existência não planejada em sua função
original. Ou, então, as próprias crianças convertem-se, a si mesmas, em objeto:
porta, avião etc. Observar com atenção tais construções imaginárias em muito
nos ajuda a melhor compreender as crianças. Tal observação fornece pistas,
ainda, sobre a importância que pode ter a presença dos adultos – pais ou
professores – nas brincadeiras infantis e sobre a necessária sensibilidade para
saber diferenciar os momentos em que a intervenção do adulto pode potencializar
a brincadeira, daqueles momentos onde essa intervenção pode representar o seu
aniquilamento.
Uma
segunda possibilidade de resposta à pergunta “o que faz de um objeto, um
brinquedo?” limita o conceito de brinquedo aos objetos que os adultos produzem
e oferecem às crianças com a finalidade de fomentar suas brincadeiras.
Como
muito bem nos lembra Walter Benjamin (2002), não é o conteúdo do brinquedo que
define a brincadeira da criança, mas, ao contrário, é a criança, ao brincar,
que transforma em brinquedo qualquer objeto de que possa dispor. Entretanto, os
brinquedos consolidaram-se em nossa cultura como objetos representativos da
infância. Nada mais justo que observá-los com atenção.
O que está em jogo quando oferecemos brinquedos
às crianças?
O que dizem os brinquedos sobre as relações entre adultos e
crianças?
O que dizem sobre a cultura em que estão inseridos?
Todo
brinquedo, enquanto objeto cultural, é pedagógico. Todo brinquedo traz junto de
si estilhaços da sociedade, da economia, da política, das artes e da ética das
relações sociais. Todo brinquedo propõe à criança uma infinidade de
possibilidades de visões de mundo, de ações e de encantamento.
Onde é feito? Como é feito? Que percurso transcorre até chegar às mãos da criança? Quem o projeta? Com que intenção? Que formas e cores lhe dão acabamento? De que material é feito? Que técnicas foram empregadas em sua feitura?
Acrescente-se a isso, a história
particular e concreta de cada brinquedo, em sua especificidade. Quem oferece o
brinquedo à criança? Com que intenção o oferece? Por que escolheu esse
brinquedo e não outro? A que convida
esse brinquedo? Qual a disponibilidade de quem oferece de brincar com a criança
que o recebe?
Concordar com
a assertiva de que todo brinquedo é, por natureza, pedagógico, impõe,
entretanto, a urgente tarefa de se problematizar o conceito usual de “brinquedo
pedagógico”, geralmente associado a um tipo específico de brinquedo que,
supostamente, estaria mais comprometido que outros com a educação das crianças.
Esse modo de classificar os brinquedos advém de uma concepção de pedagogia que
se supõe autônoma em relação à cultura e se pauta na ideia de que os adultos,
sob a máscara da experiência, sabem listar o que é imprescindível às crianças.
Benjamin (2002, p. 122) a nomeia de pedagogia burguesa.
A pedagogia burguesa, diz
Benjamin, é puramente discursiva, sustenta-se em conteúdos e métodos. Para ela
menos importa o contexto no qual se educa que os métodos empregados, pois o
foco é conduzido pelo ideal para o qual se educa. É essa a lógica que coloca os
brinquedos a serviço dos conteúdos que os adultos supõem fundamentais. O
ensinamento precisa sobrepor-se ao encantamento e o conteúdo pretenso acaba por
silenciar os elementos da cultura incrustrados no brinquedo.
Contrapondo-se à pedagogia burguesa, Benjamin
pontua a importância de se construir uma pedagogia que reconheça o contexto em
que a criança se insere como sendo sua experiência primeira de educação.
Diferentes modos de vida, diferentes modos de ver. Diferentes formas de
brincar.
ALGUMAS REFERÊNCIAS PARA PENSAR A CRIAÇÃO DO BRINQUEDO E A EDUCAÇÃO
ALGUMAS REFERÊNCIAS PARA PENSAR A CRIAÇÃO DO BRINQUEDO E A EDUCAÇÃO
· Sobre experiência de criação de brinquedo e
formação continuada: ESCONDERIJOS. Muniz, Cristina.(org) Rio de Janeiro. 7
Letras. 2000. Disponível na biblioteca da Pedagogia/ISERJ .
· Sobre como brincar com a física escondida nos
brinquedos e criação: http://brinquedoteca-iserj.blogspot.com.br/ - ações curriculares de Arte e Ciências.
Para pensar o objeto brinquedo: UMA HISTÓRIA
CULTURAL DOS BRINQUEDOS: APONTAMENTOS SOBRE INFÂNCIA, CULTURA E EDUCAÇÃO. Rita
Marisa Ribes Pereira PROPED/ UERJ/GPICC;
disponível em pdf- Revista Teias , v. 10, n. 20: Infância, territórios,
temporalidades. PROPED.
Referências Bibliográficas
BENJAMIN, Walter. Origem do drama barroco alemão. São
Paulo: Brasiliense, 1984.
_________. El Berlim demónico – relatos
radiofônicos. Barcelona: Içaria, 1987.
_________. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo:
Duas Cidades; Ed. 34, 2002.
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