Passeios-com financiamento do projeto Ônibus da Esperança, é a ideia de circular pela cidade como experiência de
conhecimento e pertencimento que pode favorecer o sujeito, adultos e crianças,
sentirem-se cidadãos desse lugar-cidade, em um movimento de afastamento e
distanciamento das experiências cotidianas para uma experiência lúdica e de
conhecimento com a cidade. Circular é afastar-se com e nos lugares, é
divertir-se neles e com as outras pessoas é ter possibilidade de experimentar
momentos outros, sensações e sentimentos sobre si sobre o outro e sobre a vida.
É desta forma que pensamos a experiência de passear na cidade como fruição/suspensão
inscrita numa temporalidade intensa e não cronológica e em suas possíveis
implicações como experiência estética - aquela que brinca com a história e
instala outras verdades. Os primórdios
da relação de pertencimento são pensados com Winnicott (1975) em sua indagação
sobre a localização da experiência cultural e a linguagem da origem de que nos
fala Walter Benjamin (1987) ajuda a pensar – no campo do sensível, da poesia e
do corpo – memórias de narrativas inscritas em um tempo inseparável da
interioridade psíquica, onde interromper o curso do tempo e redimir a memória é
exercício de humanidade. Em 2011/12 fomos parceiros do projeto Aprender nas ruas/ Pedagogia/ISERJ
quando passeamos com alunas do curso de pedagogia.
Referências:
BENJAMIN,
Walter. Obras escolhidas I: Magia e
técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1987.
WINNICOTT,
Donald W. O brincar e a realidade. Rio
de Janeiro: Imago, 1975.
***
Apresentação no
XIII Congresso da Organização Internacional das Cidades Educadoras (OICE),
Barcelona, 2014
Aprender nas ruas no ônibus da
esperança
A escola
precisa diferenciar-se da prática da escolástica, disciplinar; da educação reprodutora e escravizadora; da
instrumentalização, tecnologizante e negociante, mercadológica. A escola é o
lugar de aprender e ensinar no gozo e no privilégio de poder criar-transformar.
Escola é educação, como também é um dispositivo da polis, com quem dialoga, em
encontros e desencontros. Como um lugar
onde se aprende e se ensina, a escola tem seus privilégios garantidos por
princípios republicanos, que defendem a igualdade de direitos em relação ao
aprender e ensinar, como prática aberta e possível a todos os cidadãos. Nessa
dinâmica, as fronteiras entre a escola e a cidade demarcam linhas móveis, já
que estamos sempre em trânsito e refletimos a ambas.
Como reencontrar o cidadão excluído
da escola? Criando pontes, a partir da leitura das ruas, ônibus, praças, museus.
Em todo lugar se aprende e se ensina. A narração de experiências, a troca de
conhecimentos e saberes formais, não formais e informais transforma histórias,
pela disposição de múltiplos modo de ver, de dizer, de aparecer. Na
identificação de singularidades inclui-se também memórias comuns da cidade.
Considerado como uma comunidade, o mundo se cidadaniza. Considerada como lugar,
habitação, caminho, travessia, a cidade retorna à terra. Urbano e rural, cidade e campo, nesse ponto
convergem. Assim, a cidade educa, na vigência de uma ética que respeita a vida
em seu trânsito, em sua força sempre brotante a ser reconhecida.
Nesse
sentido, tanto a escola precisa da cidade, quanto vale também o inverso. É
preciso romper com o medo que separa uma da outra, como parte do paradigma que
separa vida e arte ou arte e trabalho. Política, ciência e poesia, reunidas,
fazem acontecer a cidade educativa.
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